Uso de articaína e sua possível relação com parestesia pós bloqueio mandibular: uma revisão de literatura
Palavras-chave:
Articaína, Parestesia, Bloqueio nervoso, OdontologiaResumo
Introdução: O cloridrato de articaína foi descoberto por H. Rusching et al., em 1969, e é classificado como uma molécula híbrida amida-éster.1,2 A articaína 4% vêm sendo utilizada na odontologia desde 1976, inicialmente em países como Alemanha e Suíça. A partir de então, vem ganhando cada vez mais popularidade no mercado de anestésicos locais.3 Quando comparada com à lidocaína, apresenta potência anestésica 1,5 vezes maior, além de proporcionar anestesia pulpar e em tecidos moles mais duradoura.4,5 Em função destas propriedades, quando comparada com outras soluções anestésicas, a articaína apresenta excelentes resultados, especialmente em procedimentos de cirurgia oral menor 4. Porém, com a difusão de seu uso, alguns estudos relatam uma possível associação entre a administração da articaína à 4% e o aumento da prevalência e incidência de parestesia após a realização de bloqueios mandibulares.4,6 Objetivo: revisar a literatura existente com o propósito de verificar se há relação entre o uso de articaína à 4%, como droga anestésica de escolha em odontologia, e o desenvolvimento de parestesia em técnicas anestésicas de bloqueios mandibulares. Métodos: Trata-se de uma revisão de literatura realizada através de buscas às bases de dados PubMed e ScieLo. Foram selecionados 13 artigos em língua inglesa e portuguesa, além de um livro traduzido para o português, publicados entre os anos de 2000 e 2021. Como estratégia de busca, utilizaram-se as palavras-chave: Articaine, Paresthesia, Nerve Block, Dentistry, Odontologia, Bloqueio Nervoso e Parestesia. Resultados: A literatura analisada mostrou controvérsias quanto a relação entre a utilização de articaína e a ocorrência de parestesia. Pogrel (2007) e Hillerup & Jansen (2006),6 avaliaram somente casos de parestesia de longa duração, e apresentaram dados divergentes quanto ao aumento da incidência e prevalência de parestesia permanente após a realização de bloqueio mandibular com articaína, uma vez que para Pogrel (2007) os casos de parestesia relatados quando se utilizou a articaína estavam de acordo com a proporção de seu uso nos Estados Unidos da América, e para Hillerup & Jansen (2006)6 a incidência de parestesia aumentou após a introdução da articaína no mercado Dinamarquês. Compararam os efeitos da articaína e da lidocaína sobre a sobrevivência e recuperação neuronal em uma análise in vitro, e concluíram que a articaína à 4% apresenta neurotoxicidade semelhante à da lidocaína à 2%.2 Já Malet et al. (2015) compararam os efeitos citotóxicos de diferentes anestésicos locais em uma linha celular de neuroblastoma humano e, concluíram que a articaína apresenta neurotoxicidade menor do que a lidocaína.7 Por outro lado, estudos que contemplaram uma maior amostra populacional pela utilização de bases de dados de relatos voluntários apontam para uma chance aumentada para o desenvolvimento de parestesia após a utilização da articaína, porém ainda a consideram como um evento raro, com a probabilidade de ocorrência variando de 1 em 410.000 a 1 em 4.159.848 injeções. 2,7,8 A literatura é unânime em afirmar que o nervo lingual é o maisafetado nos casos de parestesia, sendo que o seu envolvimento é pelo menos duas vezes mais frequente que o do nervo alveolar inferior.2,4,8 Essa maior predileção pelo nervo lingual pode estar associada aos fatores anatômicos,2,8 Entretanto, estudos demonstram que a parestesia pode ser reversível em até 94% dos casos. Conclusão: Estudos que contemplaram uma maior amostra populacional pela utilização de bases de dados de relatos voluntários sugerem que a incidência e prevalência de parestesia é aumentada pela utilização da articaína em bloqueios mandibulares, entretanto não se sabe precisar quão maior é essa possibilidade, além de ser um evento raro e na grande maioria dos casos, reversível. Todavia, cabe ao cirurgião-dentista ponderar sobre a sua utilização em bloqueios nervosos na mandíbula. Assim sendo, sugere-se a realização de maior número de ensaios clínicos randomizados que possam embasar a correta escolha do clínico.
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