AS NEUROSES E O SEU LUGAR NO CORPO
Palavras-chave:
Neuroses, Psicanálise, CorpoResumo
Este estudo, de cunho bibliográfico, objetiva discorrer a noção de neurose no corpo a partir das principais obras psicanalíticas. Tanto Freud como Lacan caracterizaram as neuroses clássicas (histeria e obsessão) pelos seus sintomas, ou seja, “um sinal e um substituto de uma satisfação pulsional que permaneceu em estado jacente, é uma consequência do processo do recalque” (Freud, 1976/1922, p. 107-200). Na neurose clássica da histeria, é possível discorrer que as conversões dos impulsos infantis são recalcadas e a busca da satisfação é desviada para um plano somático por meio de vias facilitadoras. A insatisfação histérica é a forma pela qual os pacientes sustentam o desejo. Essa questão é visível tantos nas histerias clássicas como nas contemporâneas, em que as demandas dos sujeitos se projetam num ideal inalcançável, especialmente quando as insatisfações estão relacionadas ao corpo. Já a neurose obsessiva se caracteriza por não realizar o salto do anímico ao corporal, trata-se, portanto, de uma neurose de pensamentos. Os sintomas encontram-se no plano do pensar obsessivo, caracterizado por dúvidas e procrastinações. Dessa forma, na neurose obsessiva, o corpo, lugar da angústia, é mantido por um regime de controle e em algumas vezes, na perda de um controle corporal que emergirá a angústia. Lacan (2003/1975) destaca que a neurose histérica seria a recusa do corpo, ou seja, tanto a recusa em tomar o corpo como enigma, quanto à recusa do corpo do Outro de onde advém a castração. Já a neurose obsessiva, o corpo não é propriamente o lócus do sintoma, mas sim, o da angústia. Barros (2012) contribui ao alegar que a relação do obsessivo com o seu corpo é a de um objeto a ser reivindicado pelo Outro. Para o autor, na neurose obsessiva, há uma separação não somente entre representação e afeto, mas também entre a mente, como lugar do sintoma, e o corpo, como lugar do afeto. Tanto a neurose histérica quanto a neurose obsessiva tratam-se de quadros clínicos que pertencem a uma mesma estrutura, à neurose, que é afeito do recalque promovido pelo Nome-do-Pai. Assim, é possível descrever que as neuroses são apenas defesas contra o retorno do recalcado que se organizam de diferentes formas. O que se observa é que essa definição busca identificar os fenômenos em que o corpo se presta a localizar o gozo, ou seja, identificar o sintoma e o seu significante. Nos casos das neuroses obsessivas, o gozo implica em um excesso que a falta de apoio na significação fálica transforma em atos compulsivos sem sentido, como a compulsão em alguns vícios. Dessa forma, é possível alegar que o corpo real não consiste na matéria extensa, mas sim o da substância gozante que conjuga carne e língua. Frente a isso, o papel do analista é acessar o corpo real do paciente, reconhecendo e destacando em seu discurso os pontos apagados do sujeito que são produzidos pela presença do objeto, ao mesmo tempo em que destaca o gozo, em uma tentativa de que o paciente saiba fazer algo frente a isso.
Referências
Barros, R. R. (2012). Obsessões e compulsões. Uma neurose de futuro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 53.
Freud, S. (1976/1922). “Inibição, sintoma e angustia”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. XX. Op. cit., p. 107-200.
______. (1977/1916). “Conferências introdutórias. Conferência XVII – O sentido do sintoma”. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. XVI. Op. cit., p. 305-322.
Lacan, J. (2003/1975). “Joyce, o Sinthoma”. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, p. 560-566.
Souza, M. L. P. de. (2021). A dialética do desejo. In: Topologia, discurso e representação lacaniana. Unyleya.
Zucchi, M. (2014). O destino da anatomia: o inconsciente e sua relação com o corpo nos sintomas contemporâneos. Tese de doutorado, Rio de Janeiro: UFRJ.