Fatores socioeconômicos e demográficos associados ao uso de serviço odontológico público por idosos brasileiros
Palavras-chave:
iniquidades em saúde;, envelhecimento populacional, políticas públicas em saúde, saúde bucalResumo
Introdução: A queda da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida vêm provocando um aumento da população idosa a nível mundial.1,2 Estudos prévios demonstram que o Brasil é um país com o processo de envelhecimento elevado e rápido, com grandes discrepâncias relacionadas às iniquidades em saúde que circundam a população idosa.3,4 Atualmente são elevadas as prevalências de cárie, doença periodontal e perda dentária na população idosa brasileira.5,6 Além disso, a busca pelos serviços de saúde bucal por esta população é inferior às demais faixas etárias 7. Sabe-se que os fatores individuais como sexo, cor da pele, idade e região de moradia, podem influenciar o processo saúde-doença da população, além disso, fatores socioeconômicos como a baixa escolaridade e baixa renda, interferem na qualidade de vida da população idosa brasileira e condicionam agravos de saúde.3,8 Esses fatores levam a injustiças no acesso à saúde e são marcadores de desigualdade social na distribuição e ocorrência de doenças bucais. Mesmo com a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro em 1990, o acesso aos serviços de saúde bucal permaneceu como um dos principais obstáculos para o atendimento das necessidades de saúde da população brasileira.2,4 Em 2004 surgiu a Política Nacional de Saúde Bucal “Brasil Sorridente”, responsável por ampliar a cobertura de saúde bucal na atenção primária e oferecer serviços especializados em saúde bucal; como periodontia, cirurgias orais menores, diagnósticos bucais, próteses e atenção especial a pacientes com deficiência 2,9. Entretanto, mesmo com todos os esforços envolvidos para melhorar o acesso aos serviços de saúde bucal, há uma parcela da população brasileira que não consegue acessar os serviços de saúde.9–11 Objetivo: Descrever e verificar os fatores associados ao uso de serviços odontológicos públicos por idosos brasileiros. A hipótese deste estudo é a de que idosos brasileiros que possuem melhor condição socioeconômica acessam mais os serviços públicos de saúde bucal, reforçando a teoria da equidade inversa. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal, com dados da linha de base do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), realizado entre 2015 e 2016 12. A amostra foi delineada para representar a população brasileira com idade igual ou superior a 50 anos. Os dados foram analisados com a utilização do programa estatístico STATA 14 (Stata Corporation, College Station, TX, USA). Por se tratar de uma amostra complexa, foi realizada a expansão da amostra, utilizando o peso amostral. A obtenção das razões de prevalências (RP) brutas e ajustadas foram apresentadas com seus respectivos intervalos de confiança de 95% (95% IC) e nível de significância de 5%, através de regressão de Poisson multivariada, visto que existe confiabilidade da utilização deste modelo com variância robusta para estimar razão de prevalência. Resultados: Foi possível observar que indivíduos que residem na região centro-oeste possuem uma prevalência 34% (RP:0.66 [IC:0.48-0.90]) menor de utilizar os serviços de saúde bucal públicos quando comparados aos residentes da região norte. Também foi possível verificar que indivíduos com idade igual ou superior a 70 anos de idade, utilizam 17% (RP: 0.85 [IC: 0.71-0.98]) menos os serviços públicos de saúde bucal do que os que possuem idade entre 50 e 59 anos. Ao verificar a associação entre os anos de escolaridade e uso de serviços públicos, observou-se que quem possui 12 anos ou mais de escolaridade possui uma prevalência de 83% (RP:1.83 [1.49-2.26]) a mais de utilizar os serviços públicos de saúde bucal quando comparados a quem possui até 3 anos de escolaridade. Quando se analisou a riqueza, ficou claro que quanto maior o quintil de riqueza, maior é a prevalência de utilização dos serviços públicos de saúde bucal. Indivíduos pertencentes ao quintil mais rico (5Q) apresentaram uma prevalência 95% maior de usar os serviços quando comparados ao quintil mais pobre (Q1). Conclusão: Levando em consideração esses aspectos, os resultados encontrados sugerem que idosos brasileiros com melhores condições socioeconômicas e com maior grau de escolaridade são os que mais buscam e acessam os serviços públicos de saúde bucal. Indo ao encontro da literatura prévia, que relata que as desigualdades tendem a se estabelecer em indicadores de saúde, reforçando a hipótese da equidade inversa. Além disso, observa-se que possivelmente a disponibilidade de atenção à saúde bucal varia inversamente a necessidade da população idosa brasileira, sendo importante que políticas públicas de saúde bucal levem em consideração a lei dos cuidados inversos e os fatores socioeconômicos e demográficos, para o planejamento de políticas públicas de saúde bucal voltadas aos idosos brasileiros
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