DIFERENÇAS ENTRE O HIV 1 E 2:
ASPECTOS CLÍNICOS, EPIDEMIOLÓGICOS E TERAPÊUTICOS.
Palavras-chave:
HIV, EPIDEMIOLOGIA, TRATAMENTOResumo
Introdução: O vírus da imunodeficiência humana apresenta dois tipos principais, HIV-1 e HIV-2, responsáveis pelo desenvolvimento da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Embora compartilhem mecanismos de transmissão e consequências clínicas semelhantes, os dois vírus diferem em aspectos epidemiológicos, virológicos, imunológicos e terapêuticos, impactando diretamente no manejo clínico e nas estratégias de saúde pública¹. O HIV-1 apresenta distribuição global e elevada transmissibilidade, enquanto o HIV-2 permanece concentrado principalmente na África Ocidental e em regiões com vínculos históricos e socioeconômicos com esta área².
Objetivo: Analisar comparativamente as principais diferenças entre HIV-1 e HIV-2 em relação à epidemiologia, evolução clínica, características virológicas, resposta imune e implicações terapêuticas.
Método: Trata-se de uma revisão narrativa da literatura baseada em cinco artigos científicos selecionados em bases de dados internacionais, considerando publicações recentes e de relevância para a temática proposta.
Resultados e Discussão: As diferenças entre os dois vírus abrangem múltiplos aspectos. Em relação à epidemiologia, o HIV-1 é responsável por mais de 95% das infecções no mundo, enquanto o HIV-2 afeta cerca de 1 a 2 milhões de pessoas, com prevalência estável ou em declínio². Já em termos de história natural, indivíduos infectados pelo HIV-2 apresentam progressão clínica mais lenta, com menores cargas virais plasmáticas e maior proporção de não progressão a AIDS quando comparados ao HIV-1¹,³. No campo virológico, ambos compartilham estrutura genômica semelhante, mas o HIV-2 possui apenas 40% de homologia nucleotídica em relação ao HIV-1 e apresenta diversidade genética mais restrita, com nove grupos identificados, sendo o grupo A o mais disseminado⁴. Além disso, diferenças na utilização de correceptores celulares e no perfil de ativação imune contribuem para menor patogenicidade do HIV-2¹. Quanto à resposta imune, indivíduos infectados pelo HIV-2 exibem maior preservação imunológica, com respostas celulares mais eficazes e menor nível de ativação crônica, e fatores associados à evolução clínica mais favorável¹,².Do ponto de vista terapêutico, o tratamento apresenta desafios adicionais. A maioria das drogas antirretrovirais foi desenvolvida para o HIV-1, e o HIV-2 demonstra resistência intrínseca a classes como os inibidores da transcriptase reversa não nucleosídeos (NNRTIs) e ao fusão inibidor enfuvirtida, reduzindo as opções terapêuticas disponíveis⁵. No entanto, inibidores de integrase e determinados inibidores de protease apresentam maior eficácia, embora haja risco elevado de resistência cruzada dentro das classes de fármacos⁵. Conclusão: O HIV-1 e o HIV-2, embora relacionados, apresentam diferenças marcantes que influenciam sua epidemiologia, evolução clínica e resposta terapêutica. A compreensão dessas distinções é essencial para o desenvolvimento de estratégias diagnósticas, preventivas e de tratamentos mais eficazes, especialmente em regiões endêmicas. A integração do conhecimento sobre ambos os vírus pode também contribuir para avanços em pesquisas sobre vacinas e novas abordagens terapêuticas.
Referências
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