v. 11 (2024)
Resumo Expandido

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E ESTIGMAS: PERSPECTIVAS PARA TRANSFORMAR A ESCOLA

Lauren Pieta Canan
Unidade Central de Educação FAI Faculdades – UCEFF/ Chapecó, SC, Brasil.
Luciane Franciele Goergen Kobs
Unidade Central de Educação FAI Faculdades – UCEFF/ Chapecó, SC, Brasil.

Publicado 2025-08-19

Resumo

O conceito de estigma está presente na sociedade desde a Grécia Antiga, quando, segundo Goffman¹, marcas simbólicas eram atribuídas aos indivíduos com o intuito de definir sua identidade social. Tais marcas tinham a função de acentuar as imperfeições daqueles que eram considerados diferentes, como os escravos, e ao longo da história mantiveram estreita relação tanto com a religião quanto com o Estado, já que essas instituições legitimavam a exclusão social dos “imperfeitos”¹. Entre os diferentes tipos de estigmas, Goffman¹ destaca os tribais, que se relacionam à raça, à nação e à religião, podendo ser transmitidos por linhagem e atingindo todos os membros de uma mesma família. Em todos os casos, entretanto, observa-se uma característica comum: o indivíduo que poderia ser facilmente integrado às relações sociais cotidianas é marcado por um atributo que atrai atenção excessiva, provocando o afastamento dos demais e anulando outros aspectos de sua identidade¹.No campo educacional, o estigma assume uma dimensão histórica, vinculando-se diretamente às práticas do Estado. O sistema escolar, longe de representar apenas um espaço democrático de inclusão, ainda reproduz mecanismos de segregação e exclusão que impedem a efetivação de uma educação acessível para todos. A ideia de uma escola inclusiva, embora difundida e romantizada como “educação para todos”, muitas vezes não se concretiza, uma vez que normas e estruturas tradicionais continuam a regular o espaço escolar¹. A globalização contemporânea, marcada pela rápida circulação de informações, inovações tecnológicas e transformações culturais, trouxe avanços significativos, como no campo da medicina, da comunicação e do transporte. Todavia, esses progressos não são igualmente acessíveis a todos os sujeitos, e a escola aparece como mediadora das desigualdades produzidas pelo próprio desenvolvimento social². Para que a educação acompanhe tais transformações, torna-se necessário não apenas inserir tecnologias e metodologias, mas também enfrentar os estigmas que ainda se perpetuam no cotidiano escolar, seja nas salas de aula, nos corredores ou nas práticas burocráticas da instituição². Um dos exemplos mais evidentes de estigmatização no ambiente escolar refere-se às pessoas com deficiência. Segundo Goffman¹, indivíduos que não correspondem plenamente às normas sociais vigentes são alocados na categoria de desviantes, visto que sua condição atrai atenção e desencadeia processos de afastamento. Dentro da escola, as deficiências visuais, auditivas, motoras ou intelectuais frequentemente são interpretadas como impedimentos à plena participação. Esse processo não apenas compromete a atuação desses estudantes nas atividades escolares, mas também afeta sua integridade psicológica, pois são condenados a um lugar de descrédito e isolamento¹. Nessa perspectiva, Goffman¹ sublinha que os “normais” e os “estigmatizados” não são indivíduos isolados, mas categorias interdependentes que só se constituem em situações sociais de contato. O estigma, portanto, não é apenas uma marca individual, mas um processo social em que todos os sujeitos participam em determinados momentos da vida. Assim, a escola, ao invés de ser um espaço de superação das diferenças, frequentemente reforça padrões normativos que acentuam a exclusão. Frente a esse cenário, Lacerda² destaca que a diversidade escolar deve ser entendida como riqueza, e não como obstáculo. Para tanto, a educação precisa ser repensada a partir de uma ética da diversidade, que valorize a pluralidade cultural e perceba cada aluno como legítimo em sua diferença. A superação do estigma no espaço escolar exige, portanto, um olhar diferenciado sobre os papéis sociais construídos na sociedade e um esforço coletivo para romper com normas e padrões que sustentam a exclusão². Conclui-se que a inclusão não pode se restringir a leis ou políticas educacionais, mas deve estar enraizada na prática cotidiana da escola. É necessário resgatar as diferenças como elementos constitutivos da vida em sociedade, reconhecendo a interdependência dos sujeitos e criando condições para que todos se tornem livres intelectual, social e corporalmente². A educação do futuro deve ser uma educação para a diversidade, pautada na ética e na cultura da pluralidade, de modo que cada estudante seja valorizado em sua história, cultura e ritmo de aprendizagem². Somente assim será possível projetar uma sociedade moldável, que reconhece a riqueza da diversidade e rompe com os estigmas ainda presentes no contexto escolar¹,².