Resumo
A educação, enquanto prática social, não se limita à mera transmissão de conhecimentos, mas se insere em um campo complexo de determinações históricas, ontológicas e políticas. A leitura das obras de Ivo Tonet1, Álvaro Vieira Pinto2 e Gaudêncio Frigotto3 permite estabelecer um diálogo produtivo entre concepções que, embora partam de enfoques distintos, encontram-se na compreensão da educação como fenômeno histórico e social fortemente marcado por interesses de classe. Em seu texto Tonet1 inicia a reflexão a partir de uma perspectiva filosófico-ontológica, onde para o autor, a educação é inseparável do processo pelo qual o ser humano se humaniza, apropriando-se do patrimônio cultural acumulado. Contudo, tal apropriação não deve ser passiva - para ele, é necessário recriar e renovar o conhecimento, de modo que o indivíduo construa sua própria especificidade. A educação emancipadora, nesse sentido, rompe com a mera reprodução do saber e busca formar sujeitos capazes de agir criticamente diante de situações imprevisíveis. Contudo, o autor reconhece que, no contexto do trabalho alienado característico do capitalismo, a educação tende a ser capturada para fins de reprodução social, tornando-se instrumento de submissão ao sistema. Já Vieira Pinto2, na obra escolhida, amplia a discussão ao situar a educação como fenômeno histórico, social, existencial e cultural. Para o pesquisador, no plano individual, ela é um fato existencial, pois está presente na constituição da essência humana, no plano coletivo, - logo é um fato social, determinado pelos interesses e necessidades da comunidade. O autor ressalta que a educação é moldada pelos grupos que detêm o poder, podendo se configurar como privilégio de determinadas classes. Assim, a dimensão cultural da educação, embora abarque valores, crenças e práticas sociais, está condicionada ao grau de desenvolvimento e às estruturas de dominação vigentes, o que reforça a necessidade de compreendê-la no contexto das disputas políticas e sociais. Conectando-se aos dois autores já mencionados a obra de Frigotto3 define a educação como campo de disputa hegemônica, pois o autor enfatiza sua dupla função: para a classe dominante, ela serve à formação técnica, social e ideológica voltada à manutenção da ordem capitalista. E para a classe trabalhadora, deveria ser um instrumento de desenvolvimento das potencialidades humanas e de apropriação do saber social. A dualidade da educação, segundo o autor, revela-se na sua subordinação estrutural ao capital, ainda que possa conter potencial emancipador. Ao discutir políticas como a expansão dos cursos técnicos, Frigotto problematiza se tais medidas respondem a uma lógica de qualificação subordinada ao mercado ou se podem abrir espaços para uma formação crítica. O diálogo entre os três autores permite identificar um núcleo comum: todos reconhecem a educação como prática social historicamente situada e permeada por interesses de classe. Tonet1 oferece o fundamento ontológico e emancipador. Vieira Pinto2 contribui com a compreensão histórico-cultural e a denúncia do caráter seletivo e excludente da educação. E Frigotto3 explicita o embate político e econômico que estrutura o campo educacional. Juntos, mostram que a emancipação humana, embora possível, depende da superação das formas de alienação impostas pelo capital e da construção de práticas educativas que unam apropriação crítica do saber e transformação social. Assim, compreender a educação sob a ótica desses três pensadores implica reconhecê-la não apenas como instrumento de adaptação ao mundo existente, mas como campo de luta, criação e resistência. É nesse espaço de tensão entre reprodução e transformação que reside o desafio contemporâneo de pensar uma educação verdadeiramente emancipadora.